A carne de caça e os peixes de rio têm um sabor e uma energia incomparáveis, mas será que vocês não estão ignorando o que chamamos de "mato"?
Nos últimos anos, aqui em Santa Rosa de Lima, passei a comer conscientemente as plantas silvestres que crescem ao meu redor. Simplesmente colho o que me chama a atenção e coloco na boca. Manter esse hábito trouxe descobertas profundas sobre o que significa estar "nutrido" de verdade.
■ O despertar: Reeducando o paladar Tudo começou quando vi crianças recusarem café, dizendo que era "amargo e ruim". Percebi que nosso paladar é, em grande parte, construído socialmente. Aprendemos a gostar de café, álcool e especiarias por hábito.
Decidi fazer um experimento: "comer apenas com o lado direito do cérebro" (o lado sensorial), como um animal selvagem. Ao provar o mato fresco, o lado esquerdo diz: "é amargo, é duro". Mas o lado sensorial sente algo diferente: é pura potência. Não é sobre ser "gostoso" ou "ruim", mas sobre sentir que "está vivo!". Percebi que o que chamamos de "ervas finas", como o alecrim, nada mais são do que matos com uma personalidade e força extraordinárias.
■ O Pinhão: A joia da Araucária e o ápice da energia Nessa busca pela essência, o Pinhão tornou-se o meu maior mestre. Aqui no sul, o Pinhão é comum, mas vocês já tentaram saboreá-lo com a consciência de sua força vital? O Pinhão é um sobrevivente, uma semente que carrega toda a memória da Araucária.
Quando provo um pinhão, sinto que o julgamento lógico do "sabor" é pequeno perto da explosão de energia que ele oferece. Entendi por que os povos indígenas desta terra o consideravam a base da vida. Ele é um "superalimento" que sacia não só o estômago, mas a alma. O mais surpreendente é que, após esse tempo comendo matos e sementes nativas, o que antes parecia "estranho" tornou-se genuinamente saboroso. O paladar humano é capaz de se expandir e se reconectar com a terra.
■ A segurança de viver no jardim do mundo Vivemos em uma sociedade onde se acredita que "se não trabalhar, não come". Mas ao olhar para essas montanhas, percebo que o sustento está bem diante dos nossos olhos. Só o fato de saber que "há alimento vivo ao meu redor" traz uma paz imensa.
A natureza é perfeita: ela nos dá o que precisamos, onde estamos. Seja um mato colhido na beira do caminho ou um pinhão assado na grimpa, tudo é uma forma de arte e vibração.
Não precisamos viver com medo. Quero continuar vivendo assim: livre, consciente e em harmonia com o que o solo de Santa Catarina oferece, como um animal selvagem de alta consciência.